segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Íntimo e pessoal

Tem meses que são foda! E é por isso que a gente ficou tanto tempo afastadas... Mas estamos aí – e aqui de novo – pro que der e vier.

E o que veio especialmente hoje pra Bia foi a experiência única de levar sua filha de 13 anos pela primeira vez ao ginecologista. Não por acaso, a primeira e única ginecologista que Bia teve na vida, e que botou a hoje aborrescente no mundo.

Na sala de espera do consultório ela se lembrou de quando, 21 anos atrás, sentiu aquele primeiro desconforto, imaginando como seria escancarar toda a sua intimidade pra uma mulher – que ela nunca sequer tinha visto [se bem que já ter visto ou conhecido não muda muito o estranhamento da situação.

Para os homens, que nunca passaram e obviamente nunca vão passar por isso, a coisa acontece mais ou menos assim: a gente recebe um avental e um chinelinho (será que é pra dar mais aconchego ao momento?) e deita numa maca com uns apoios para as pernas – um evidentemente a quilômetros de distância do outro – que nos coloca numa posição em que até a alma fica exposta. Aí vem o médico com um instrumento que mais parece de tortura medieval: o tal do bico de pato, que afasta tudo o que possa tapar a visão do colo uterino.

E aí... bem, chega de detalhes. O fato é que o processo é um bocado desconfortável. Mas como todo mundo tá cansado de saber que é um exame vital para a prevenção do câncer de colo de útero, é com essa certeza e consciência que pelo menos uma vez por ano a gente adentra a sala de espera de um consultório ginecológico. E bem, fecha parênteses].

Bia se lembra daquele misto de medo e orgulho que sentira num consultório não muito diferente daquele, ao constatar que não era mais uma menina, que já era capaz de gerar uma vida. E hoje, ali do lado daquela menina-mulher, gerada no seu próprio ventre, revive 21 anos de amor e sexualidade, que geraram não apenas uma, mas duas vidas. Um filme passa na sua cabeça: a primeira transa, cheia de desejo e ansiedade; a segunda, um pouco mais madura; a terceira, a quarta... as transas do casamento, as que geraram seus filhos; a redescoberta de um novo sexo, após a separação; a última transa, impulso de tesão...

A médica chama as duas, mãe e filha, para a consulta. E a filha decide que só quer conversar. “Só vou ser examinada quando eu perder a virgindade.”

Tudo bem... mas, quando vai ser isso? Daqui a um ano, dois, cinco... dez? “Dez não, né, mãe? Tá louca?

E dá-lhe maturidade.