quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Prosa e poesia

Qual a diferença entre o amor e o sexo? Até que ponto é loucura não saber de que lado se quer estar? É possível ter os dois?

Claro que é. Que o digam muitos casais apaixonados que têm um sexo paradisíaco [aliás, mais uma para os próximos dez mandamentos*] por anos e anos a fio, seguido daquela vontade de dormir abraçadinho, de conchinha. Só para acolher e se sentir acolhido, querer e se sentir querido. Receita boa – se é que existe uma – para a felicidade conjugal.

Mas tem vezes que o amor acaba e nem o melhor dos sexos é capaz de sustentar a relação. Abraços são substituídos pela vontade inevitável de fechar os olhos e virar pro lado. E sonhar com outro. E olhar para o outro, despertando para o fato de que as coisas podem não estar nada bem.

E o que dizer daquelas relações em que o sexo é tudo? Ou só. Coisa de pele, de química, tesão, cheiro, vontade... Dessas que dão na escada, no banheiro, na garagem, no carro. Dessas que você nem sabe como começou nem como vai acabar. Que te tiram o ar, mas não te impedem de buscar um porto seguro pra ancorar.

Pois há também aquelas que te pegam no meio do dia, que fazem você correr para “aquele” compromisso inadiável que não existe [só para saciar a vontade]. Que quando o telefone toca, você acorda ouvindo um “Vem pra cá agora! Quero você!”. Não importa se é madrugada. O coração tá batendo mais forte – e você já está dentro do táxi. Vai começar tudo de novo.

É só sexo? Não, não é. Pois tem aquela vontade de ficar junto, de se ver mais vezes, de conhecer o outro, de ver filme junto, de andar de mão dada. Mas também não é amor. Não, ainda não. Não, de novo?

Viver um dia de cada vez pode ser o segredo – se é que há algum. Aproveitar ao máximo cada segundo... Pode ser o primeiro, pode ser o último. Pode [é, pode sim] durar a vida inteira. E se isso for muito tempo, que dure o tempo que seja. Sem ansiedade, sem medos, sem complicações.

Que vocês tirem a roupa [e depois não se lembrem como],
Que haja entrega total [sem cobranças],
Que o sexo seja animal [com amor na medida certa],
Que o amor tenha tempero [que ele te diga “me possua” e vocês morram de rir]
A verdade, se é que existe alguma, é que amor pode ser para sempre. Sexo também. Mantenha os dois vivos, não no outro, mas em você.


Amor e Sexo (Rita Lee / Roberto de Carvalho / Arnaldo Jabor)

Amor é um livro
Sexo é esporte

Sexo é escolha
Amor é sorte

Amor é pensamento, teorema
Amor é novela
Sexo é cinema

Sexo é imaginação, fantasia
Amor é prosa
Sexo é poesia

O amor nos torna patéticos
Sexo é uma selva de epiléticos

Amor é cristão
Sexo é pagão

Amor é latifúndio
Sexo é invasão

Amor é divino
Sexo é animal

Amor é bossa nova
Sexo é carnaval

Amor é para sempre
Sexo também

Sexo é do bom
Amor é do bem

Amor sem sexo é amizade
Sexo sem amor é vontade

Amor é um
Sexo é dois

Sexo antes
Amor depois

Sexo vem dos outros e vai embora
Amor vem de nós e demora


* N.B.: Vêm aí os outros dez mandamentos da balzaca – para o verão e para qualquer estação. Se você tem alguma dica ou sugestão, é só mandar.

Amor e Sexo