quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Send Amor



Saudades de receber carta escrita, fita gravada com direito a chamada da rádio. Saudosismo analógico de receber bilhetes anônimos na sala de aula, presentes de um e noventa e nove e telefonemas que terminam com o silêncio cheio após o “Alô”.

Por isso e por tantas outras coisas que Sophia se surpreendeu em receber na mesa de um bar – não poderia ser diferente – um manuscrito em letra de forma, no verso de um papel já aproveitado, uma carta de amor.

Indireta. Confusa. Sincera. Humana. Escrita.

Cheia de um tudo que faz parte do todo de nós.

“Porque por mais que seja internamente repetitivo, e pode-se explicar, talvez, pelo fato de não ter sido internamente discutido a importância de se expressar sobre isso.

Porque ela me faz bem e é isso que importa: a leveza da relação, o bem-estar pessoal, a sensação de calmaria que se tem quando se para e pensa que existe alguém por quem nutrimos sentimentos não forçados.

Porque nessa porra dessa gangorra que é a vida, onde, assim como os carros, as pessoas chegam e vão embora, cada um carrega nas costas o peso da missão atribuída; vemos os transeuntes perdidos com olhares vazios ocos, sem brilho. Dependendo da criatura é importante uma segurança e paz afetiva.

Porque me recuso a acreditar em perfeição. E, diante dessa prerrogativa e levando-se em conta o oposto do que consideramos perfeito, só o fato de não trazer consigo pequenos delitos impróprios para a paz interior já é uma porra de medalha que temos que carregar de forma orgulhosa no peito.

Porque o entendimento de um simples olhar, as coisas claras na troca de exclamações e somando tudo isso a uma série de outros fatores, deixa mais cristalino bem-estar do responsável e supervisão full time pela ausência de lágrimas e similares que é a porra do coração, este órgão primitivo; refém das armadilhas da mente.”