sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Alta infidelidade - parte II

Quando a gente pensa que já cometeu todas as loucuras do mundo e que não temos mais idade pra certas coisas... Vocês lembram do papo com a Soninha, né? Ela continua lá, remoendo seus botões de indecisões – tem até muitas novidades pra contar, mas essa também fica pra próxima. Lembram daquela amiga da Bia e da Sophia, que tava decidida a viajar pra encontrar seu mais novo amante virtual? Pois é, ela foi. E é ela mesma quem relata aqui uma das sete horas mais longas da sua vida, que antecederam o “crime”.

Ah, e antes que alguém possa torcer o nariz, achando que estamos fazendo apologia ao adultério, ao sexo virtual, ou a qualquer coisa do gênero, vamos logo explicando que longe de nós fazer qualquer julgamento de valor. Estamos apenas reproduzindo aqui o e-mail enviado por ela (e por motivos óbvios, nem pseudônimo ela vai ganhar aqui).

Lá vai:

“Pois é, amigas, preciso contar...
Sei que foi mais um grande surto. Mas que surtada boa!

Num impulso eloqüente entrei no táxi e me dirigi à rodoviária. A passagem já estava comprada, apesar de isso não significar muita coisa, pois tinha esperança de amarelar, cair em sã consciência antes do dia marcado.
Lá fui eu, olhos arregalados dentro do ônibus que me levaria para outra cidade (que não conheço) encontrar alguém (que também não conhecia).
[Não conhecia fisicamente, pois na teoria parecia ser o homem da minha vida. Papo de adolescente apaixonada, né?]
Pois então, foram cinco horas dentro de um ônibus. A cada parada me dava vontade de voltar. Uma voz interna e insistente que me acompanhou a viagem inteira pedia volta, volta... você está doida... Essa boa voz que vou batizá-la de RAZÃO brigava o tempo todo com outra que batizei de EMOÇÃO, e que insistia em que eu ficasse ali quietinha aguardando o meu destino.
O que será que vou encontrar?
Um doido tarado que vai me matar. Esfaquear-me, cortar-me aos pedaços e guardar o corpo debaixo da cama ou então me jogar em um penhasco... Ai meu Deus, o que será que estou fazendo aqui?
O que vai pensar minha família, quando derem conta do grau da minha loucura? Que exemplo estou dando pra minha filha adolescente? Cair no conto de um maluco na internet e morrer por causa disso...
Bem, seja lá o que vai acontecer, estou aqui. Sentada no ônibus esperando meu destino.
E se for tudo ao contrário? Em vez de um matador tarado... um príncipe encantado que vai me enlouquecer de tesão, me falar de coisas boas e bonitas, me beijar até o dia clarear, me amar e me dar muito carinho e prazer... Prefiro pensar nessa versão.
Mas e se ele forjou as fotos e eu der de cara com um homem vesgo, manco, feio, desdentado, gordo e careca... Um homem bem repugnante. O que faço? Saio correndo? Digo que eu não sou eu? Pra onde correr se não conheço a cidade? O que fazer?!?
E se ele for tudo de bom e me achar feia, velha, esquisita... Onde vou enfiar minha cara? Recolho minha feiúra dentro da mala e volto para o ônibus?
Que loucura! O que faz uma mulher com seus quase 40 anos viver uma aventura dessas? Por que não segui os conselhos de minhas amigas? Ir para as baladas por aqui mesmo em minha cidade, encontrar um gatinho, levar pra cama e no dia seguinte tudo azul... tudo lindo... Mas não, comigo tinha que ser diferente! Tinha que ter algum grau de complicação – se não, não seria eu.
Olho pela janela e reconheço que já estou em outro estado. Em um momento de ápice nervoso, levanto da cadeira e grito ao motorista que pare o ônibus que eu quero descer. Todos olham para mim com aquela cara de Qual é a sua, tia? Vai atrapalhar a viagem? Será que fiz mesmo isso ou foi só impulso da minha consciência doentia? Acho que foi só pensamento, pois o ônibus não parou.
Com os olhos mais arregalados que nunca, lá fui eu tentando reconhecer os caminhos que me levavam ao desconhecido.
Cheguei na rodoviária. Uma cidade estranha, com gente esquisita. Acho que todos me olhavam... Olha a louca carioca que veio atrás de um grande amor. Hahahahaha.
Ainda tenho alguns minutos, pois falei para o dito cujo que chegaria uma hora depois, no caso de eu cair na real. Fiquei ali, quieta, sentadinha entre viajantes e loucos varridos. Estava me sentindo a própria, perdida nos meus pensamentos de sonhos e medos... quando o celular tocou. Era ele perguntando onde eu estava, se eu já estava chegando. Fiquei calada sem saber o que responder... quando ouvi minha voz falando calmamente que eu já estava aqui.
Ouvi do outro lado uma risada... e um elogio que me bambeou as pernas.
- Você é linda.
Ele estava do meu lado.
Exatamente como eu imaginava, como eu sonhava... como eu queria que fosse. Não deu tempo de falar “oi”. Me agarrou pela cintura e me tirou o ar com um beijo maravilhoso...

Bem. Como eu estava falando no início, foi a surtada mais gostosa e emocionante da minha vida. Mas não aconselho meninas “normais” a tal aventura.”



Nota das Blogueiras:
Rola na próxima segunda-feira, 6 de agosto, o I Encontro BLS. Para Blogueiros, Leitores e Simpatizantes. Organizado pelo Beto Largman, o objetivo é que o evento seja um fórum livre de idéias entre pessoas que, de uma maneira ou de outra, estejam ligadas ao tema. Entre os convidados, Alexandre Inagaki (Agência Riot), que falará sobre blogs e marketing viral; Paulo Mussoi (coordenador dos blogs do Globo Online) vai mostrar a visão de uma grande empresa de comunicação sobre os blogs; Carlos Cardoso que vive exclusivamente do seu blog, um problogger; Fabio Seixas (analista de sistemas, sócio-fundador do Camiseteria.com e diretor de marketing do WeShow.com) vai detalhar como é possível rentabilizar um blog e Alessandro Barbosa Lima (a confirmar), diretor do E.life, explicará como funciona a monitoração do boca-a-boca na web. A entrada é franca, mas os lugares obviamente são limitados (cerca de 120). Claro que a gente vai estar lá.

Quando: 06/08 a partir das 19h
Onde: Armazém Digital – Shopping Rio Design/Leblon
Avenida Ataulfo de Paiva, 270 - Loja 104

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Alta infidelidade

Odiamos categorizações precipitadas. Mas se tivéssemos que classificar as balzaquianas, pelo menos as do nosso círculo de amizades, em algumas categorias básicas, seriam elas mais ou menos assim:

1. As separadas e aliviadas por finalmente não precisarem dar satisfações a ninguém; por poderem andar pela casa, que agora é só delas, de camisola velha e calcinhas de algodão; por poderem sair para onde bem entenderem com a intenção única e exclusiva de se divertir; por não saberem muito bem o que querem, mas saberem exatamente o que não querem mais;

2. As separadas e desesperadas em encontrar um novo e verdadeiro amor; alguém que as faça sentir amadas, bonitas, gostosas e... jovens; que seja romântico nas horas certas, e canalha nas horas necessárias; que ligue no dia seguinte, que responda (imediatamente) todos os torpedos, mas que não grude quando não é o momento;

3. As casadas e desesperadas por uma intensa paixão; daquelas que tiram o fôlego e que fazem cometer loucuras; que acendam um fogo quase sempre adormecido por culpa (?) da rotina, da falta de diálogo, do comodismo ou do deixa-pra-lá;

4. As casadas e felizes. [Como essa é uma categoria que a gente não conhece muito bem, vamos pular, ok? Sem querer desprestigiar nossas amigas casadas e felizes, que, por favor, estão convidadas a completar essa definição.].

É claro que poderíamos subdividir essas categorias em separadas e desesperadas ou aliviadas com e sem filhos, e em casadas e desesperadas ou felizes com e sem filhos, ou se esforçando para tê-los... Sem falar nas solteiras. Apesar de que essas, aos 30 e poucos anos, estão quase sempre desesperadas.

Mas, categorizações à parte, o post de hoje é sobre as casadas e desesperadas.

Belmonte do Flamengo, terça-feira (que poderia ser numa quinta, um dia quase sempre lotado de desesperadas e desesperados das mais diversas categorias). Quatro amigas, das categorias 1, 2 e 3, “molham a palavra” na mesa do bar, desfiando algumas teorias entre um chopp e outro, regado com pastel de camarão com catupiry.

- Mas, vem cá, será que não existem mais casais felizes?
- Não sei, não. Pelo menos a galera da nossa idade, tá tudo, de certa forma, numa certa crise.
- Eu acho que a gente passou de um extremo ao outro: da absoluta tolerância, que significava fechar os olhos para uma série de coisas, traição inclusive, à absoluta intolerância, em que a primeira aporrinhação é motivo para a mais definitiva separação.
- Mas eu confesso a vocês que a opção “traição” não sai da minha cabeça.

Legítima balzaca da categoria casadas e desesperadas, Soninha não sabe se está passando por uma daquelas crises ou se já não ama mais o marido. Filhos, contas, monotonia. A dita ou maldita rotina que faz com que a mágica e o tesão façam parte apenas das boas e velhas lembranças.

- Mas precisa partir pra traição?
- E você acha que ele nunca traiu ela?
- Ah, todo homem trai.
- Eu não concordo. Não acredito que o meu ex tenha me traído. Não boto minha mão no fogo. Mas não acho, não.
- Mas eu tô precisando sentir emoção, sabe? – revela Soninha.
- Tenho uma amiga que também tá nessa. Mas o caso dela tá realmente complicado. Não transa há quase um ano.
- É, aí fica difícil mesmo.
- E agora começou um “namoro” pela internet. Tá decidida a viajar pra encontrá-lo – ele mora em outra cidade.
- Aí já é desespero! – As três concordam dessa vez.
- Diz que só quer um fim de semana de puro sexo!
- Mas precisa ir tão longe? rs

Na mesa ao lado, dois homens acompanham o papo das balzacas, que acabam chegando à conclusão de que precisar... não precisa.

Por que não usar um advérbio de intensidade? [Lembram das aulas de português?] Vamos refrescar a memória, sejamos criativas.

Advérbio: Palavra que modifica o sentido do verbo (maioria), do adjetivo e do próprio advérbio (intensidade para essas duas classes). Denota em si mesma uma circunstância que determina sua classificação:

• Advérbio de Lugar – longe, junto, acima, ali, lá, atrás... [Nossa... quantas posições!].

• Advérbio de Tempo – breve, cedo, já, agora, outrora, imediatamente... [Ansiedade. Quero agora! Você não entende?].

• Advérbio de Intensidade – muito, pouco, bastante, mais, meio, quão, demais, tão... [O brilho que falta, o tempero que – às vezes – pode e deve ser resgatado].

• Advérbio de Modo – bem, mal, melhor, pior, devagar... [Alterna entre a esperança e a total descrença de que tudo pode dar certo].

• Advérbio de Dúvida – quiçá, talvez, provavelmente, porventura, possivelmente... [Será que devo? Quando devemos dar um ponto final? Devemos?].

• Advérbio de Negação – não, qual nada, tampouco, absolutamente... [Não sei o que quero.]

• Advérbio de Afirmação – sim, certamente, deveras, com efeito, realmente, efetivamente... [Só sei o que não quero].

Soninha ainda não se decidiu. Continua driblando aquele cara MA-RA-VI-LHO-SO que a faz sentir aquela emoção no fundo do peito, aquela formiguinha no estômago, a crença que, com esse sim, tudo seria diferente...

Mas, para essa escolha, definitivamente não existe regra, conselho, mandinga. Como toda escolha, perde-se para ganhar, ganha-se para perder. Parafraseando nosso ministro da cultura: Sabe gente, é tanta coisa pra gente saber/ o que cantar, como andar aonde ir, / o que dizer, o que calar, a quem querer.


N.B.: A quem interessar possa, depois de um longo período (passou bem rápido, pra falar a verdade), estamos de volta. Não fomos pra Buenos Aires, nem pra Tiradentes, nem pra hotel-fazenda nenhum, mas curtimos um bocado os dias (com as crianças) e as noites (sem elas) no Rio de Janeiro. Mas agora as férias acabaram, o Pan acabou, e a gente promete voltar à ativa, com atualizações mais freqüentes.

A boa das noites? Essa a gente conta na próxima.